Sunday, July 22, 2007

O grande desastre aéreo de ontem

Os noticiários dos últimos dias me fez lembrar de um belíssimo texto do Jorge de Lima.
Você entenderá porquê.

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.


LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 2 v, v. 1, p. 237.

Friday, May 18, 2007

Ironic

Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você
Quando você pensa que tudo está O.K. e tudo está indo bem
E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando
Quando você pensa que tudo está dando certo e tudo explode
Na sua cara

É um engarrafamento quando você já está atrasado
Um sinal de "proibido fumar" no seu intervalo para o cigarro
É como dez mil colheres quando tudo que você precisa é de uma faca
É encontrar o homem dos meus sonhos
E conhecer sua linda esposa
E isto não é irônico... você não acha?
Um pouco irônico demais... eu acho...


Eu jamais seria a mãe dos seus filhos
E você é o único cara com quem eu teria os meus
Isn't it ironic... don't you think?

Tuesday, April 11, 2006

Lisergia em movimento

Quem eu sou eu não sei
Eu não sou ninguém importante
Mas eu sei quem eu queria ser

Um faixo de Luz
Uma nota musical
Uma gota d’ água
Uma bolha de cristal

Eu queria atravessar o Éter
E vagar pelo Espaço
Um Condor a voar
Pelo azul celestial

Um Disco Voador
De um Planeta distante
Criação Fantasmagórica
De seres evoluídos

A explorar novas dimensões
A criar novas sensações
Novos e bons sentimentos

De amor
De paz
De esperança
De magia

Eu sou apenas um ponto
No espaço-tempo tridimensional
Uma figura estranha e bizarra

Mas no Hiperespaço
Eu sou compreendida
Eu sou a parte de um todo
Um Todo Pulsante

Que emana vida
O Lago Filosofal
Da Criação

Eu cultuo a Liberdade
O Despreendimento
Os Cavalos Alados
As Fadas e Os Unicónios

Minha visão é Caleidoscópica
Eu giro num Espiral
E subo uma escada
Rumo ao infinito

Minha morada é uma Torre de Gelo
Buracos de Minhoca
O meu tempo é o Agora Eterno

e na veia continua a correr a lisergia

Tuesday, December 20, 2005

Um grande acontecimento

Sim é preciso narrar esse fato
Um grande avanço
Um mistério
Forças ocultas
Presentes dos Deuses (Deus?)

Hoje, por vinte e quatro horas, não estive mal-humorada.
Não tive vontade de matar ninguém
Não lati e nem mordi
Eu até sorri (com algum esforço)
Calma
Nem feliz, nem alegre
Simplesmente Normal

Saturday, October 01, 2005

...
Tenho sido tão pouco...
Os dias me engolem,
a vida me arrasta.
...
Brindemos ao inesperado,
brindemos à vida !
Que em mim a alegria se faça
...
Meu coração tem a cor do destino
...

Claudia Marczak

Wednesday, September 28, 2005

O que você será hoje?

Alice, uma estrela ou um raio de luz?
Ou o melhor de cada alternativa
Ser é criar, acreditar e recriar
Escolha um sonho e ponha em ação.
Não duvide nunca das possibilidades da vida, das sua verdades (castelos de areia em transitoriedade ou mente superior de sabedoria pré-cognitiva?) e do seu coração.
Duvide da razão, do tempo e do espaço, pois essa é criação feita de material não condensado, muitas vezes mutáveis.
Use a emoção-válvula de processos criativos e abuse da percepção
Mude as frequências do seu pensamento
Crie formas, molde um novo universo
Viva dentro dele e exteriorize-o nesse mundo aqui fora
O visível reproduz o invisível
Faça tudo com sua mente criativa
Utilize seu quinto e sexto sentido
Seu instinto será o seu melhor cão guia
Solte o gênio que há em você
O limite é o céu, o infinito
Pense nisso
Desenvolva isso
e dê um sorriso

Saturday, September 17, 2005

Lobo Antunes...mestre

"(...) penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico. (...) Há sempre uma parte subterrânea nas obras de arte impossível de explicar. Como no amor. Esse mistério é, talvez seja, a própria essência do acto criador. (...) Quando criamos é como se provocássemos uma espécie de loucura, quando nos fechamos sozinhos para escrever é como se nos tornássemos doentes. A nossa superfície de contacto com a realidade diminui, ali estamos encarcerados numa espécie de ovo... só que tem de haver uma parte racional em nós que ordene a desordem provocada. A escrita é um delírio organizado."
in Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano I, nº23, Janeiro de 1982